Sobre a bailarina:

"Dançar é explorar sua mente; expressar através do corpo seus sentimentos. Então, dance! Se entregue ao som e deixe que sua alma se manifeste."

terça-feira, 9 de junho de 2020

Ser mulher na quarentena

Mesmo no período pré-pandemia de COVID-19, não havia no mundo lugar onde as mulheres tivessem efetiva equidade de gênero. Em alguns lugares, em alguns aspectos, os direitos das mulheres são mais respeitados, de fato, mas a equidade ainda é distante. Numa situação emergencial e de decisões extremas, como a que vivemos agora, é natural que todas as desigualdades fiquem ainda mais escancaradas. Trataremos então de pincelar algumas delas, enfatizando três dos grandes problemas que as mulheres vêm enfrentando: saúde, segurança e economia.

ASPECTOS ECONÔMICOS

Dados de 2018 da Organização Internacional do Trabalho mostram que a participação feminina no trabalho informal supera a masculina em diversos países em desenvolvimento. A maioria, trabalhando como diaristas, faxinando residências.

De acordo com a pesquisa "Síntese de indicadores sociais 2019 - uma análise das condições de vida da população brasileira", do IBGE, a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho em 2018 foi de 52.9%, enquanto a dos homens foi de 72%.

Medo de adoecer e não trabalhar, assim como o de perder clientes, são as grandes preocupações das mulheres autônomas. Com capital de giro para apenas um mês, há uma grande apreensão em não haver dinheiro o suficiente para a manutenção de despesas fixas essenciais.

Uma forma de nós ajudarmos essas mulheres é mantendo contato, apoiando seus negócios (indicando, divulgando, consumindo) e até entretendo as crianças por vídeo chamada.

SAÚDE MENTAL

Um estudo da Kaises Family Foundation (EUA) diz que 53% das mulheres possuem sobrecarga emocional durante a pandemia da COVID-19. Cansaço, estresse e sobrecarga podem favorecer o adoecimento dessas mulheres, levando ao desenvolvimento de transtornos de ansiedade e depressão, por exemplo.

As mulheres nem sempre fazem parte grupo de risco, mas sempre são parte do grupo de cuidadores. No Brasil, 85% dos profissionais de enfermagem são mulheres.

11 milhões de famílias são compostas por mães solo no Brasil. A ausência de pais ou a abdicação paternal do cuidado para com os filhos concentra nas mulheres um acúmulo de tarefas. O Home Office que, por sua vez, pode favorecer o excesso de serviço, aliado aos filhos em casa e a impossibilidade de outras mulheres, como avós, por exemplo, auxiliarem no cuidado, pode aumentar consideravelmente a diferença se gênero. De acordo com o IBGE, em 2019, as mulheres realizaram serviços do lar durante 18.5 horas semanais, enquanto os homens gastaram 10.3 horas semanais.

Em condições de sobrecarga, recomenda-se, sempre que possível, a busca por psicoterapia (na quarentena vários profissionais estão trabalhando com valores sociais e vídeo chamadas) e terapias complementares (a arte, no geral, é a melhor aliada! Canto, dança, teatro, pintura, artesanato...), assim como criar uma rede de apoio, conversar com os membros do lar e dividir as tarefas e smepre dedicar um tempo mínimo para o autocuidado.

VIOLÊNCIA

Relações de violência estão associadas a relações de poder, onde quem quem tem mais poder provavelmente será o agressor. Diante de um cenário que já era desfavorável para as mulheres, muitas encontram-se trancadas 24h por dia com seu próprio agressor. O número de assassinatos de mulheres dentro de casa, em SP, quase dobrou entre 24 de março de 2020 e 13 de abril de 2020. O Ministério Público de São Paulo constatou o aumento de 29% nos pedidos de medida protetiva em março de 2020, comparado a fevereiro do mesmo ano. Acredita-se também que haja um aumento no consumo de bebidas alcoólicas nesse período. Sabe-se que tal prática tende a desencadear situações de violência com maior facilidade quando o consumidor já tem histórico agressivo, uma vez que a intoxicação alcoólica causa instabilidade de humor e perda do senso crítico. Os estados de SP, RJ, ES e o Distrito Federal anteciparam a ampliação de seus serviços da delegacia eletrônica e disponibilizaram o registro de boletins de ocorrência de violência doméstica. O governo brasileiro também oferece algumas vagas em abrigos para vítimas que preferem cumprir a quarentena fora de casa.

Para denúncias, deve- se ligar para o 190 em casos de emergência, ou seja, quando está acontecendo algo naquele momento. Para orientações sobre como proceder em casos de violência, deve-se ligar para o 180. Em SP, o aplicativo SOS mulher, e no Brasil, o aplicativo Direitos Humanos Brasil, também são meios para realizar denúncias de violência contra a mulher.

DIREITO À SAÚDE SEXUAL E COLETIVA

A sobrecarga nos Sistemas de Saúde devido à pandemia de COVID-19 levou ao cancelamento temporário de inúmeros procedimentos não urgentes. Dentre os quais podemos incluir a inserção e manutenção de DIU (dispositivo intra uterino), laqueaduras e vasectomias. Reuniões de Planejamento Familiar, que ocorrem nas Unidades Básicas de Saúde, também estão temporariamente canceladas. Recomenda-se que mulheres que já estão adaptadas a um método anticoncepcional mantenha-o e, caso deseje trocá-lo, o faça ao fim da pandemia. Populações periféricas, ribeirinhas e rurais, que sempre tiveram dificuldades no acesso à saúde, deparam-se agora com recomendação de isolamento físico, o que se torna mais um obstáculo, já que muitos profissionais de saúde não poderão se transportar até determinadas regiões. Mulheres, que também podem estar no grupo de risco da COVID-19, têm dificuldades em acessar métodos e procedimentos contraceptivos. Numa crise mundial, nem todas podem se dar ao luxo de comprar um preservativo, uma cartela de anticoncepcional oral. Quiçá não têm quem vá até a farmácia mais próxima fazê-lo, e precisam se expor quebrando o isolamento físico. No SUS, há relatos de escassez de pílulas anticoncepcionais e preservativos em algumas Unidades Básicas de Saúde e hospitais. A Organização das Nações Unidas prevê a falta de camisinhas em todo mundo, uma vez que há um aumento de demanda, logística de entrega prejudicada e paralisação de muitas fábricas. O mesmo também pode ocorrer com os métodos hormonais em alguns lugares, dependendo da localização geográfica e da estrutura da região. O Relatório do Fundo Populacional, também da ONU, estima que 47 milhões de mulheres sem acesso à métodos anticoncepcionais. O El País, numa matéria intitulada " o indesejado babyboom provocado pela pandemia" cita uma previsão de aumento de 20% nos abusos durante o período de confinamento. Tais eventos tendem a aumentar a quantidade de gravidezes indesejadas, assim como o número de abortos inseguros e de mortes maternas em decorrência de procedimentos de aborto. De acordo com o Ministério da Saúde, grávidas e puérperas estão no grupo de risco para COVID-19. Além disso, a falta de evidências sobre a transmissão fetal (de mãe para filho) contribui para que a orientação de não engravidar nesse período, oriunda de vários órgãos de Saúde, seja cada vez mais fundamentada.



Referências

https://www.folhavitoria.com.br/geral/noticia/05/2020/diario-da-quarentena-mulheres-se-sentem-sobrecarregadas-durante-a-pandemia

https://www.brasildefato.com.br/2020/04/29/durante-quarentena-denuncias-de-violencia-contra-a-mulher-sobem-15-no-parana

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-estudante/trabalho-e-formacao/2020/04/26/interna-trabalhoeformacao-2019,848505/sobrecarga-atinge-mulheres-durante-a-quarentena-deixando-as-por-um-fio.shtml0

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/04/assassinatos-de-mulheres-em-casa-dobram-em-sp-durante-quarentena-por-coronavirus.shtml

https://veja.abril.com.br/brasil/subnotificacao-e-gatilhos-o-drama-da-violencia-domestica-na-quarentena/

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/03/24/Quais-os-impactos-da-pandemia-sobre-as-mulheres

https://exame.abril.com.br/economia/saude-financeira-de-mulheres-negras-e-mais-critica-na-pandemia-da-covid-19/

https://theintercept.com/2020/04/20/coronavirus-evitar-gravidez-mas-cortam-contraceptivos/

https://helloclue.com/pt/artigos/contraceptivos/o-impacto-do-coronavirus-no-acesso-a-metodos-contraceptivos

https://brasil.elpais.com/planeta_futuro/2020-04-28/o-indesejado-baby-boom-provocado-pela-pandemia.html